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terça-feira, 1 de junho de 2010

Novos meios, novos desafios

Para onde caminha a Rádio?

A Internet quebrou fronteiras. Trouxe a imagem à Rádio e levou a Rádio a todo o mundo. Fez repensar a definição do meio e as denominações “rádio local” e “rádio nacional”. Mas a revolução parece ainda agora ter começado.

Com poucos recursos económicos e humanos, as rádios de âmbito local parecem encarar a emissão online como a ferramenta mais importante do site. Muitas vezes, é a única que usam. Uma pesquisa no site Rádios.pt, onde se encontra uma listagem de todas as emissoras de Portugal, rapidamente deixa perceber que a área de cobertura de uma rádio é, na maioria dos casos, directamente proporcional ao aproveitamento das novas tecnologias. Luís Bonixe, investigador e docente na Escola Superior de Educação de Portalegre, afirma que grande parte das emissoras locais não aproveita “as potencialidades que a Internet oferece, não há actualização de conteúdos, são raros os podcasts” e poucas “estão nas redes sociais”. No entanto, adverte que há que ter presente que “as rádios locais têm pouquíssimos recursos humanos, os que existem estão afectos à emissão tradicional e por isso os sites são relegados para segundo plano, ou seja, se sobrar alguém actualiza o site, caso contrário fica à espera”.

A Rádio Renascença tem uma pequena equipa que trabalha praticamente em regime de exclusividade nas plataformas online, à semelhança de outras emissoras pertencentes a grandes grupos económicos.


Redacção da Rádio Renascença

Contudo, nas rádios locais, a emissão online tem chegado para alimentar o “mercado da saudade”. Como refere Rogério Santos, investigador e docente na Faculdade Técnica de Lisboa, “a dificuldade de alcançar um território, por causa da potência do emissor, desaparece”. Para os emigrantes, saber o que acontece na terra natal tem-se tornado mais simples. Luís Bonixe esteve já na Suíça com emigrantes portugueses e conviveu com esta realidade: “ foi muito interessante ver os emigrantes portugueses 'sintonizados' na net, ouvindo rádios locais portuguesas das suas localidades de origem.” É por isso que afirma que “a Internet é a melhor oportunidade para a rádio, não é nem pouco mais ou menos uma ameaça”. Radialistas que trabalham em estações de âmbito local corroboram esta opinião.


António Tavares, director de informação da Rádio Ondas do Lima
 

As rádios nacionais e as locais não se têm olhado como concorrentes. Estabelecem frequentemente trocas. A partilha de informação é uma constante e tem uma importância enorme na construção de noticiários mais abrangentes. Na Rádio Ondas do Lima (ROL), por exemplo, os noticiários em cadeia com a Antena 1 permitem abordagens noticiosas impossíveis de outro modo. Em contrapartida, a ROL, sempre que necessário, envia informações ou faz cobertura de eventos na região do Alto Minho onde a Antena 1, por alguma razão, não pode chegar. Na opinião de António Tavares, director informativo da ROL, os noticiários em cadeia não limitam de modo algum a liberdade editorial.


António Tavares, director de informação da ROL
 

De acordo com Ribeiro Cristóvão, veterano da rádio em Portugal, as emissoras locais prestam um serviço excepcional às populações. “Protegem-nas”, diz. O radialista explica que, muitas vezes, são elas quem “mostra às autoridades locais os problemas das suas gentes”.À luz deste facto e apesar de todos o sufoco financeiro que algumas sofrem, considera impensável que venham a desaparecer e que o espectro radiofónico se limite a emissoras de âmbito nacional. Manuel Gonçalves, da ROL, concorda com esta perspectiva.


Manuel Gonçalves, radialista da ROL
 


“A rádio de cobertura nacional trata habitualmente as notícias a partir da sua sede, coincidindo habitualmente com Lisboa, onde estão os centros de poder político e económico”, explica Rogério Santos. A Rádio SIM, do grupo Renascença, é uma excepção. Apesar de ser uma emissora de âmbito nacional, tem uma política de aproximação ao local. Os correspondentes em vários pontos de Portugal Continental e nos arquipélagos fazem chegar informações específicas de cada região à redacção da SIM. Segundo Ana Paula Santos, editora da Rádio, o público-alvo tem acima de 50 anos e gosta de saber o que se passa à sua “porta”. 


Ana Paula Santos, editora da Rádio SIM
 

 
Há ainda muitos caminhos para trilhar.
Mas será que a capacidade de chegar a todo o mundo pode acabar com a denominação “rádio local”? Luís Bonixe acredita que não e explica que “local” não diz só respeito à área de cobertura. As rádios locais têm por intuito servir as populações em que se inserem. “Devem preocupar-se com uma maior proximidade com a comunidade envolvente no que diz respeito à informação, à cultura e aos hábitos”, esclarece o investigador. E acrescenta que, precisamente para “evitar esta eventual incongruência”, há quem sugira chamar-lhes “rádios de proximidade”.

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